segunda-feira, março 07, 2005

agora (mas não sempre) Oliveira

... ou o direito à opinião!

6ª feira à tarde. Monumental, Saldanha
exibição do filme "O Quinto Império" e conversa com o realizador Manoel de Oliveira

adormeci no filme. mas, nos momentos em que consegui manter os olhos abertos, fiquei com a sensação que os planos eram sempre frontais e monótonos. o ritmo bastante lento, pausado. a acção... mas qual acção?
no final, Manoel de Oliveira à conversa com João Mário Grilo, meu professor de Filmologia, e com os alunos dos diferentes cursos que foram assistir a esta reposição exclusiva do filme.

aparentemente (fisicamente, se preferirem), Oliveira não parece ter a idade que tem (noventa e quantos?). mas quando começa a falar percebe-se que a idade está toda lá. e ele acusa-a.
hoje, quando cheguei à faculdade, em conversa com colegas, senti-me estúpida. todos o adoraram. pensei "deves ser uma ignorante, que não aprecia a cultura portuguesa como ela merece. o homem é um marco, Joana! que estúpida". devo ser. mas descobri pessoas que partilham a mesma ideia que eu (obrigada Daniel, obrigada Pollie): porque é que a cultura cinéfila portuguesa divulgada no mundo se resume quase exclusivamente a este realizador? porque ele tem perto de um século? porque lhe devemos (por motivos que me são alheios) respeito? porque faz bons filmes? não consigo responder sim a nenhuma destas questões. mas também não encontro o motivo de tanta admiração e subordinação.

a malta esforçou-se por fazer perguntas inteligentes, das que se exigem a estudantes universitários que consomem teoria durante 4 anos e têm que aplicá-la algures na vida (era esta a altura).
o professor João Mário Grilo procurava fazer uma introdução às suas questões e situá-las nas teorias que ensina.
resultados: respostas curtas, evasivas, desfasadas de contexto.

a sensação que me ficou foi simples: não vale a pena procurarmos explicações metafísicas, filosóficas ou racionais para os filmes de Manoel de Oliveira. planos, personagens, composição, luz, cor, fotografia, espaço, tudo - ele faz filmes assim porque lhe apetece. e mais nada.

e não podemos esquecer que "os filmes americanos são marmelada". não são nem representam situações da vida real e apenas servem para nos manter agarrados à cadeira, sem estimular o nosso pensamento e os nossos sentidos. mas os dele são bons, olá se são!
apesar de tudo isto, ainda há quem ache que Manoel de Oliveira é um Senhor. eu acho que o Senhor está no céu (e até nele tenho dificuldade em acreditar) e o resto... o resto é conversa.