quarta-feira, março 02, 2005

revolta

há coisas que me embrulham o estômago. esta é uma delas.

desde que faço voluntariado na Estefânia que comecei a perceber um bocadinho o funcionamento dos hospitais públicos.
hoje, no meu turno da tarde, vi todos os limites serem ultrapassados.
dois miúdos: um com cerca de 2 anos, o outro mais velho, devia andar pelos 10. o primeiro não comeu nada o dia inteiro, porque estava a vomitar. foi à triagem, deram-lhe soro e mandaram aguardar na sala de espera da urgência. o outro com epilepsia, sem comer desde manhã e sem tomar a medicação. eram já 16h30 quando me vim embora e ainda lá ficaram!
duas mães cansadas, revoltadas, que gritavam impropérios contra os médicos e enfermeiros (quanto a mim, com alguma razão, embora a forma como o fizeram não tenha sido a mais adequada): "ele devia era estar a arrumar carros, não era a tratar crianças!!".

entretanto, a sala cheia de crianças. umas com alergias, outras com falta de ar, outras que não tinham aparentemente problemas graves. e todas passaram à frente dos 2 pequenitos!!
de medicina não percebo nada. mas do funcionamento do hospital vou percebendo aos poucos.

infelizmente é fácil verificar que nem todas as crianças têm um tratamento igual. os motivos não sei. aparentemente as crianças menos favorecidas são as que sofrem mais, não só pelas condições de vida que têm, mas pela falta de atenção que estes serviços lhes prestam.
é com muita revolta que noto que hoje - em pleno século XXI - ainda há um preconceito disfarçado, subtil. ninguém o refere, mas ele está lá.

depois, é vê-las cansadas, a adormecerem nos braços dos pais (na melhor das hipóteses) ou a chorarem sem parar. sem saberem que a vida - e o nosso sistema de saúde - é injusta e ainda escolhe os "melhores" - sejam eles os mais bem vestidos, os que falam melhor ou simplesmente os que têm uma mãozinha que os ajuda.

e afinal são só crianças. todas elas.

1 Comments:

At 7:55 da tarde, Blogger Joana said...

fiquei envergonhada 'bóbora :$

 

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