o Luís desafiou-me a escrever um post sobre a qualidade do ensino superior português. aqui vai.
estou no 4º ano de Ciências da Comunicação na FCSH, Universidade Nova de Lisboa. acho que com alguma propriedade poderei expor alguns pontos que me parecem errados no meu curso.
1. não temos nenhuma cadeira de língua portuguesa. se estamos a formar comunicadores, nomeadamente jornalistas, não seria bom prepará-los? é que já vimos que é errado pressupor que toda a gente que completa o 12º ano e entra numa faculdade sabe ler e escrever correctamente a própria língua.
2. não temos nenhuma cadeira de línguas estrangeiras no departamento. também não nos facilitam o horário, caso queiramos fazê-la num outro. uma coisa é certa: sem aprovação numa língua estrangeira o curso não fica concluído. podemos pagar para frequentar um curso num instituto e esperar que aceitem o certificado que nos passam no final. ou inscrevemo-nos no
exame de inglês (foi o único que fiz) - língua que não treinámos durante anos - e vamos fazer o exame receosos de que a matéria seja difícil. afinal, o exame é de cruzinha e o resultado é "apto" ou "não apto". todos passam e ninguém sabe a nota final.
3. num conjunto de 40 cadeiras que compõem o curso, temos 2 (com sorte 3) que são práticas. o resto é teoria. formam-se apenas académicos e teóricos.
4. a variante de audiovisuais abre apenas as cadeiras suficientes para que a possamos completar (não há mais opções). não existem cadeiras de rádio, apesar de haver um estúdio muito completo, que não é utilizado porque não há quem leccione.
5. o estúdio de televisão tem material arcaico que - descobri há dias- é o mesmo que existia há 20 anos. resta-nos o consolo de, quando todos os computadores do mundo explodirem, nós, estudantes da Nova, sabemos manusear VHS's e mesas de mistura com rodinhas. ah, e estamos mais ou menos habilitados a manusear câmaras do tempo dos afonsinhos.
6. há professores que se dão ao luxo de não por os pés nas aulas (para que é que servem os assistentes, heim?) e têm a lata de dizer que não podem ter em estúdio turnos com mais de 8 pessoas, porque é "anti-pedagógico". os mesmo professores excluem assim alunos pela média (sendo que a nota mais alta da cadeira precedente é 14 e mais de 75% dos alunos que a fizeram tiveram 12), esquecendo-se desse pormenor que quem for aprovado (com um mínimo de 10) na precedência tem o direito de fazer o atelier. mais ainda quando está no último ano do curso (sujeitando-se a ouvir "volte cá para o ano para fazer a minha cadeira").
7. há também aqueles que não cumprem os prazos. já a cadeira foi leccionada no semestre anterior e estamos no fim do ano sem saber as notas. notas essas que são necessárias para a média com que se concorre ao estágio.
[estas são notas breves sobre as quais não me apetece dissertar agora. fica a certeza, porém, de que se soubesse o que sei hoje jamais me teria candidatado a esta faculdade.
ia dizer entretanto que valeu (quase exclusivamente) pelas pessoas. mas depois do que se passou hoje, acho que nem todas merecem essa homenagem.]
Blog do Bafiento Jacinto Coito
Gazeta dos Triunfos e Fracassos do Agente Jacinto Coito e Companhia
5 Comments:
Depois comento a substância, mas por agora: 4º ano? Conheces uma Ana Paiva ou uma Cristina Parga?
Poucas pessoas não ficarão desiludidas com os cursos que frenquentaram, exceptuando talvez as que tiram um curso por tirar. Se eu tivesse sabido de algumas coisas mais cedo, tinha estudado no estrangeiro a faculdade toda.
Quanto às pessoas, Paivinha, de boas intenções está o inferno cheio. Aliás, vim de lá agora. Do blog, não do inferno. ;)
Luís, não conheço mais nenhuma Paiva no meu curso. nem nenhuma Cristina. fico à espera do resto :)
Conguito, é uma pena que ao fim de tanto tempo eu ainda esteja a descobrir isso!
Suspiro... Eu tirei a Licenciatura em Letras na UL... Não vale a pena dissertar mais sobre o ensino superior. Assim que acabar a Pós-Graduação daqui a 2 meses, "desvinculo-me" dos estabelecimentos de ensino superior para não perder a minha saúde!... Beijos, Joana.
Tem piada, eu fiz engenharia, e também tenho imensas queixas desse género. Ao menos no meu curso nunca ninguém foi impedido de frequentar nenhuma aula. Mas podia e devia fazer-se mais e melhor, isso sim.
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