quinta-feira, agosto 19, 2004

há dias em que a alma nos pede uma arrumação. pegamos primeiro na vassoura e afastamos para um canto as pessoas e situações que nos feriram. em seguida, escondemos numa prateleira bem alta todas aquelas que, em algum momento, nos foram próximas. e mantêmo-las à vista, para as recordar novamente, imersos numa nostalgia que nos acalma. à mão, para que lhes possamos tocar, alinhamos a nossa gente - bem perto do lado do coração que bate com mais vigor. depois, soltamos as lágrimas, que vão acabar por lavar as impurezas que restam e levar para bem longe as dúvidas sem sentido e as más recordações...

***
é necessário uma vida para conhecer alguém. porém, pretensiosos, pensamos que uma gargalhada conjunta ou um segredo partilhado nos trazem a união de um caminho infinito. que erro!
olhei para o lado e lá estavas: o mesmo sorriso de sempre, o mesmo carinho que, desde o primeiro dia, me deste. e agora é tudo tão diferente...de repente, a cabeça começa a rodar e as perguntas espalham-se por todo o lado. não cessa aquele eco que as palavras deixam. quero pensar, ouvir, pensar de novo e encontrar o sentido. e afinal ele não existe. ou fui eu que o perdi? ou eras só tu a entregar-te de outra forma? ou não estamos mesmo aqui e tudo não passa de um sonho?
acorda-me então e diz-me onde fica a terra. é urgente! para que eu não caia, para que não te abandone. vamos começar novamente...eu finjo que não foste assim e tu dizes-me as mesmas palavras, num tom diferente, distante. não te afastes, pedes-me. não o farei, mas preciso de uns segundos para recompor a ordem que abalaste. abre esse espaço para eu gritar e regressa somente quando a vontade, a minha, te chamar.
aí então poderemos recomeçar. e faremos tudo da forma correcta: primeiro o sorriso, depois o segredo. finalmente outro e outro. e deixaremos de ter essa pretensão equívoca de que nos conhecemos. porque é nessa realidade confusa que vamos definindo os contornos da amizade interrompida, que queremos agarrar.

p.s. "the worst is over now and we can breathe again...you've gone away...you don't feel me here anymore..."

4 Comments:

At 10:58 da tarde, Anonymous Anónimo said...

umas vezes ficamos tristes, outras um pouco melhor. como dizia o sr. paulo coelho: ''no fim acaba sempre tudo bem. se as coisas não estão bem é porque ainda não chegaste ao fim.''
nesses dias menos bons, o que há a fazer é procurar a companhia daqueles que nos são queridos para que eles nos possam dar carinho e com os quais sentimos que tudo vai passar depressa.
os que têm o poder de nos fazer esquecer os piores momentos são os que realmente nos amam :)

Pimpas

 
At 11:09 da tarde, Anonymous Anónimo said...

"bateu forte"... posso estar a ser pretensioso mas, há aqui parte de mim neste texto. Sinto isso. Por favor, corrige-me se estou errado. (you know who i am) **

 
At 12:11 da tarde, Blogger Joana said...

um desabafo é apenas isso...uma ordem de palavras que vão saltando para o papel, guiadas pela razão - ou pelo coração.
este é talvez um dos mais reais, partiu de uma força que é preciso ignorar, porque me faz mal. só era necessário exteriorizá-la, para mais facilmente poder esquecê-la.
a única pessoa a quem se dirige, é a única que não o pode ler. mas já o sabe. tudo o que aqui deixei já foi dito - não pensei sequer por um segundo expôr algo a todos os que lêem, sem antes ter tido uma conversa séria, privada.
foi quando percebi que nem todas as pessoas que nos desiludem o fazem deliberadamente. por vezes, gostam tanto de nós, que querem apenas proteger-nos. só não encontram a melhor forma e isso magoa-nos. mas insistem em não nos perder.
a vida não pode ensinar-nos a gostar de alguém para o afastar em seguida.
aqui fica a correcção de que este post é apenas para uma pessoa: a que chegou agora mas já tem um lugar especial. e todos os bons momentos que temos passado juntos são agora parte do meu livro de memórias.

 
At 3:41 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Ok. Está desfeita a dúvida. De facto, não se dirigia a mim. Peço desculpa.

 

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