segunda-feira, setembro 13, 2004

não podemos entrar na vida de ninguém sem pedir licença. é preciso que nos abram uma porta - às vezes basta que fique entreaberta - e que nos dêem um espaço. eu não pedi nada. foi espontâneo, uma espécie de acordo mútuo virtual. entrei...entrámos naquele espaço e invadimos sorrateiramente uma vida que não era nossa, mas que queríamos conhecer.
sempre achei que a melhor parte de uma relação é essa...há uma sedução estranha que nos acolhe, que saboreamos tão delicadamente quanto ela parece envolver-nos. é o início.
não tenho ainda a certeza onde acaba. mas é efémera. julgo perceber ali uma fronteira em que as relações se alteram.
quis dizer-te isso naquele instante. era a única coisa que faria sentido dizer. parecia uma nuvem a pairar à minha volta, a esconder-me. e era apenas o que eu queria. não consegui que as perguntas corressem da mente para as palavras que tentei delinear para ti.

sabes, cada segundo em que nos olhámos pareceu uma eternidade. tenho a certeza de que o tempo pára para nós e impede o mundo de avançar. naquele momento, a perfeição existe. tem um nome, mas não to posso dizer - fica na intimidade do pensamento, eu sei que a respeitas.
continuo a olhar-te. conseguimos ver muito para além da superficialidade que aparentamos. como se as palavras se tornassem ocas, vazias, e tudo o resto, o que vagueia na alma, se espelhasse por completo. às vezes não queria que fosse assim. há coisas que te queria esconder...não por um engano surdo que te quero impor (tu sabes tudo e ainda assim foges), mas porque a alma pode incomodar.
há momentos em que não te suporto. levas um segredo contigo e afastas-te, como se ele doesse. quando tudo o que quis era que ele nos aproximasse. aos poucos, talvez, vislumbro um sorriso que chama, sem imposições. vais mantê-lo?
enxuguei os olhos. nunca mais permiti que deitassem uma lágrima. não por nós. vês aquele caminho? é por onde vou, sem destino certo. quero que me sigas. lá ao fundo só haverá espaço para esse abraço terno que há muito se esconde. vamos suprimir novamente as palavras e cair num silêncio que foi feito para nós.
deita-te aqui ao meu lado e diz-me que estamos no início. vamos seduzir-nos e deixar que o relógio fique ali, quieto, mudo. sei que não vou acordar, porque estás ali. e isso basta-me.