segunda-feira, setembro 20, 2004

não sei bem o que se sente quando uma pessoa que nos é próxima está perto do fim. acho que um dia terei descobrirei. mas não agora. não enquanto não tiver consciência de que isso é possível.
acho que nos habituamos a olhar para as pessoas e senti-las. não importa de que forma, mas sentimo-las...o que quer dizer que estão vivas. e depois? será que quando nos deixam - para sempre - fica um vazio?

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soube há meses que a mãe de um amigo meu - que conheço bem - está gravemente doente. quando os médicos lhe deram pouco tempo de vida, ela surpreendeu-os e disse 'não é ainda a minha hora'!
hoje, está irreconhecível. o aspecto físico é triste. a expressão de sofrimento. mas a única coisa a que não renunciou foi à luta.
o marido chora, mergulhado num desespero que não condeno, que não conheço. ela, à beira do abismo sem retorno, anima-o, transmite-lhe a força que não tem, mas que alguém providenciou para si.
os filhos...estou muito longe de estar próxima àquilo que sentem, que vivem. ou sobrevivem.

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cada dia é uma vitória. cada noite um tormento sem fim. e cada minuto é descontado num silêncio de medo. um medo escuro, que sufoca e fere.
o céu espera mais uma estrela. mas não é para já. há ainda um pouco para viver aqui...há sorrisos que ainda não nasceram, há também um amor inacabado. e há uma esperança infinita...enquanto durar.