terça-feira, setembro 21, 2004

às vezes, as palavras dos outros espelham o que sentimos...e como não sei reproduzir melhor, aqui fica este excerto...

"Os carvalhos muito grandes. As estrelas espalhadas, as nuvens a passarem como pessoas tristes, o céu da noite sem lua, o céu da noite escuro e sem lua. Eu acreditava que o amor é a inocência sufocada mil vezes na vontade ridícula de desejar que o céu compreenda. E a cidade lá ao fundo, uma extensão de luzes pequenas, de vidas, de pessoas enganadas. Caminhava perdido de mim. Os meus passos a quebrarem ramos pequenos. Os meus passos no chão grosso de folhas de carvalho. O cheiro vegetal do musgo, da resina e da água. Caminhei muito entre sombras. Cada vez mais longe de mim, cada vez mais dentro da escuridão obsidiante do medo."

José Luís Peixoto, Uma Casa na Escuridão