"O que uma criança sofre
Larguei o canário no meu aquário para ele nadar
Em vez de ficar contente comigo, à noite o meu pai pôs-me de castigo.
Deitei o peixinho no meio do ninho para descansar
Em vez de ficar contente comigo, à noite o meu pai pôs-me de castigo.
Enterrei o dinheiro dentro do canteiro para o semear
Em vez de ficar contente comigo, à noite o meu pai pôs-me de castigo.
Eu dei ao bebé só um pontapé para ele voar
Em vez de ficar contente comigo, à noite o meu pai pôs-me de castigo!"
(Luísa Ducla Soares)
Blog do Bafiento Jacinto Coito
Gazeta dos Triunfos e Fracassos do Agente Jacinto Coito e Companhia
sexta-feira, novembro 28, 2003
quinta-feira, novembro 27, 2003
Ora ele há por aí uma instituição para lá de mítica na nossa linda cidade de Lisboa. São os taxistas. Quem nunca andou num carro amarelinho, com um castiço condutor de praça a contar a vidinha (dele ou dos outros, que para meter conversa tanto faz), a falar de futebol ou a reclamar que o pessoal que sai das "disco-nights" lhe deixa o pobre carrinho a cheirar a álcool....e quantas vezes ele próprio não leva já a sua pinguita no bucho? E, claro, o bigodinho. Que sem ele não haveria taxistas!
Agora tornaram-se quase uma seita... Diz-se por aí que assistem e contabilizam os sinais que a Nossa Senhora de Fátima lhes envia. Perguntamos nós: com tanta gente no mundo, porque é que as entidades divinas escolheriam precisamente os taxistas para revelar ou dar sinais do que quer que fosse?
A verdade é que andam assustados com o fim do mundo, que isto dos prenúncios não é para uma pessoa brincar. Desde 1983, dizia ele...que raio de ano para enviar um sinal. É certo, foi uma boa colheita a de 83, por isso não faz qualquer sentido.
Ora uma pessoa vem do Porto, visitar a cidade, e dá de caras com tipos como este. Acresce ainda a molha que se apanhou naquela bela tarde e chega-se a uma conclusão: não há pachorra!
Diria eu aqui, especulando com os meus botões, que tudo isto tem a ver com a vinheta da inspecção, que é vermelha. Os meus poucos conhecimentos de recente condutora dizem-me que isso não é de todo um bom sinal (lá está...), que é capaz de o veículo ter chumbado na inspecção! Ora se pensarmos que pode andar assim o amigo condutor de praça desde 1983, cá chegaremos a alguma conclusão...
Qual milagre de Fátima!
quarta-feira, novembro 26, 2003
Roseta surda de um ouvido está de volta! Isto de ter o acesso à net condicionado é o cabo dos trabalhos. Não fosse o agente Coito, sempre tão solícito, a informar-me das novas do reino, e o caso andaria muito mal parado.
Enfim, em frente é que é o caminho. Hoje, um pouco cansada (quem falar em Sociologia da Comunicação nos próximos 54789613544 dias, arrisca-se a um tiro no meio da tola), mas feliz por estar de novamente convosco! Amén.
segunda-feira, novembro 24, 2003
Apesar dos cinco órgãos desertores (consigo recordar, não muito nitidamente, é certo, um fígado dentro de um frasco e o que julgo ser um rim num tabuleiro), Roseta ainda se aventura nestas coisas da investigação...jornalística, como convém.
Ora isto tem de ficar aqui, no segredo dos deuses. Bem sei que as altas esferas da nossa sociedade e os mais creditados jornalistas da nossa praça acedem ao nosso humilde blog, é por esse motivo que vou utilizar nomes fictícios.
Ora nossa Roseta (pois que sim, sou eu mesma) vai ao médico, que lhe diz ter uma disfunção (não é para qualquer um...se bem que, se me conhecesse, o sr. doutor rapidamente veria que tenho não uma, mas várias disfunções...ao nível do cérebro, órgão que ainda me resta, são várias). Mas não se preocupem, está tudo controlado!
Enfim, quis o destino que me cruzasse com uma cambada de jornalistas (ai Nuno Luz, que comoção vê-lo ali tão perto e a sorrir-me...), que esperavam ansiosos pelo mais recente lesionado do Sporting, segundo soube depois, com uma rotura de ligamentos (vulgo um "rasgão" no calcanhar de Aquiles...sendo que não é esse o nome do jovem).
Ora a querida Roseta tem acesso a informação privilegiada dentro deste hospital. Soube pois, que os cerca de 15 monos que se encontravam há horas e horas naquele local, bem poderiam penar o resto da noite. O jogador ia entrar por um portão escondido, a que os pobres mensageiros não têm acesso.
Até sei o número do quarto...mediante um cheque gordo, podemos negociar!
terça-feira, novembro 18, 2003
Não sendo a gripe suficiente, a frequência de Sociologia da Comunicação à porta e a pressão de 1001 trabalhos para entregar esta semana (ok, são menos, mas pressionam uma pessoa na mesma), descubro agora uma particularidade do meu signo.
"Hathor - a deusa dos lares.
(...)
Os Egípcios chamavam-lhe 'Vaca do Paraíso' e dela retiravam leite para as suas crianças. É também conhecida como 'galinha dos ovos de ouro do Nilo' (...)."
Epah, uma pessoa em stress lê o título e pensa "que honra, era a deusa dos lares", mas a VACA que vem a seguir e a GALINHA não são propriamente lisonjeadoras. Sobretudo se tivermos em conta que vivemos no Ocidente e as vacas não são animais sagrados! Depois, nunca dei leite a ninguém (amamentar, se bem me entendem...)! E, segundo me consta, as galinhas são vendidas ao preço da chuva, ovos de ouro nem vê-los! Além disso, olhando de novo ali para cima, quem raio se chama HATHOR?
Olha que isto há cada uma...!
Uma santa noite é o que vos desejo.
domingo, novembro 16, 2003
Se há um mês difícil, esse mês é o presente, Novembro. Trabalhos para entregar (notícias, planos de trabalhos, ...), frequências que se aproximam à velocidade da luz, o frio, a chuva e o vento. E a gripe. A doença da moda, que nos deixa ranhosos, com tosse (há até quem cuspa os pulmões, mas eu acho que isso só acontece com a mistura explosiva de tabaco e alguma molha), sem vontade de fazer nada (o que também já é normal, não fosse o facto de não fazermos mesmo...porque não há disposição). Só dormir. Tenho um fim-de-semana de 3 dias e perdi a conta a quantas horas passei a dormir.
Há pessoas que não se podem dar ao luxo de ficar doentes: estudantes universitários, que precisam de ir às aulas (cof cof...estão a ver esta maldita que não me dá descanso?); pivots de telejornais (há sempre o choque de acender a tv à hora do jantarinho e dar de caras com o Pedro Pinto, quando todos ansiamos é pela Manelinha Moura Guedes); animadores de rádio (quem é que nos ajuda na já de si difícil tarefa de levantar da cama, quando o vírus saltitante nos ataca?); o padeiro; o homem do quiosque; etc. e tal. E, claro, os repórteres. Parece que agora há por aí uma variante: é muito mais in, cá para nós que ninguém nos ouve, ausentar-se do dever profissional porque se foi raptado por iraquianos, do que por uma doençazita qualquer, que o mais comum dos mortais apanha.
Tudo está bem, quando acaba bem. Eu nem sei se amanhã resisto ao começo do dia, quanto mais ao finalzinho...
domingo, novembro 09, 2003
Um grupo de ex-colegas. Um jantar. Afinal, um grupo de amigos. Conversas soltas, recordações. Memórias de vivências partilhadas. Saudade. Vontade infinita de regressar à adolescência (infância?) e reviver o passado. As aulas. Os recreios. As festas. A amizade.
Tenho saudades vossas e ainda aqui estão.
sexta-feira, novembro 07, 2003
06.Novembro.2003
S.L.Benfica 3 - Molde F. K. 1
Ora todos os dias têm pelo menos um instante porreiro. Aquele em que paramos, sorrimos e pensamos que afinal a vida não nos quer lixar. Se bem que às vezes...
Lá vêm os meus companheiros, um tanto abalados pela viagem que fizeram do Porto até Lisboa. Parece que o motorista sofria de parkinson...
Estádio da Luz, a Nova Catedral! Não consigo descrever o ambiente que encontrámos nem de que forma o senti. Acima de tudo, um ambiente de festa. E lá vai a águia a sobrevoar o campo... Espectacular. Grandioso. Glorioso.
Um bom jogo, sem desacatos (ouvi uns quantos insultos ao árbitro, dizem-me que é normal...mas ditos com o sotaque do norte, meus amigos...uuuuui, nem vos conto!), as claques bem quentinhas a animar o estádio, a puxar pelo pessoal. O amigo ali atrás também está quentinho, mas aquilo não é só do cachecol...uma pinguita a mais, é o que é!
Treinador de bancada bem regado: ele insulta o fiscal de linha (sou capaz de jurar que o mandou meter a bandeirinha num sítio politicamente incorrecto, que começa por C e acaba em U...), o árbitro (o apito também lá caberá, no dito?), o número 4 do adversário (o loirinho mais parece uma menina com medo de sujar os calções), o treinador (que, com certeza, não o consultou para formar a equipa...indecente, indecente!)...
No final, a vitória!
(Um breve apontamento: aos senhores da Prosegur expresso a minha admiração pela postura com que estão no estádio, a evitar desavenças, de costas e sem nunca olharem para o campo...ai, aquele senhor espreitou! Espero que sejam bem pagos por isso. Como é possível?)
Permitam-me três recadinhos: um, à nossa tripeira e "dragona" Filipa, que tão desportivamente torceu pelo Benfica. Mais do que admirar o estádio, tenho a certeza que entraste no espírito encarnado. Mesmo que por instantes, percebeste a grandeza e o porquê de ser o vermelho a nossa cor, de sofrermos há 10 anos sem taças para comemorar. Não te esqueças, faz sempre o que te apetece! És grande, miúda!
"E quem não bate palmas é tripeiro..." ;)
O outro ao Fábio: era o nosso sonho! Sabes que a primeira vez (seja no que for) é sempre especial. E a nossa foi muuuuuito especial. Nem o Ricardo Rocha faria melhor hihihi. Não fui eu que tornei possível o teu sonho, estive só ao teu lado e isso basta-me. Um dia, vais recordar-me como "a-gaja-fixe-que-esteve-4-horas-na-fila-para-comprar-os-bilhetes"...e vais pensar "valeu a pena"! Gosto de ti, miúdo. Volta sempre! ;)
E, finalmente, à nossa Raquel, que fez ontem, dia 6, 20 aninhos. Amiga, apesar de não ter estado presente no jantar, sabes que estive sempre contigo em espírito (se bem que o espírito não bebe sangria, falhou essa parte hehehe). Um grande beijinho de PARABÉNS, adoro-te Ratuxa! ;)
quinta-feira, novembro 06, 2003
A marcar o dia de ontem, a megamanifestação dos estudantes do Ensino Superior, em Lisboa.
Propinas e representatividade à parte, o que importava era o lanchinho...não deram!
Pelo menos havia apitos!
terça-feira, novembro 04, 2003
Aula de Economia da Informação
Banda sonora: "Heathcliff, Heathcliff é um gato, bem-disposto e educado...la la la, que não me lembro do resto."
Começamos bem hoje, o professor chega atrasad(íssim)o. Inquieto, o amigo Jacinto (não o agente, o outro) quer voar dali para fora. As contas e as análises microeconómicas das empresas de Comunicação Social não estão definitivamente nos seus planos de hoje. Nem nos meus, mas fazer o quê?
Lá vem ele, coitadito...vem com um ar adoentado! É melhor concentramo-nos, que há por ali uma porca guinchona e um gajo metido a burocrata (onde é que ele arranjou aquelas mãos?!), que querem monopolizar a aula (já merecia meio valor na nota final por utilizar conceitos económicos neste blog infame e completamente despropositado).
Hoje estão calmos, devem ter andado a distribuir os comprimidos antes de os soltarem. Infelizmente para eles, hoje não há textos auxiliares! Buuuuuuuuuuh, lá vem uma enxurrada de perguntas parvas. Até brilhamos ao pé daqueles meninos de coro...
Eis senão quando, uma participação inesperada irrompe das redondezas (moi même, pois então), cala a "amiga" guinchona e sabidona e...cala-se a ela própria! Obrigadinha ao colega do lado, que traz consigo aquela história recalcada do colega-que-se-vira-para-ele-a-cada-intervenção-na-aula-e-o-envergonha e quem se lixa sou eu! Vermelha como o cachecol que vou levar na 5ª feira para o Estádio da Luz e engasgada, perdida no deserto que se torna o meu raciocínio.
Ainda me consegui safar e a miúda lá atrás parece que precisa de outro calmante...e uns apontamentos com a matéria também davam jeitinho (tanta asneirada junta numa só aula de 3 horas não pode ser bom sinal...falta de estudo, amiga, falta de estudo).
Bem, e para que não me acusem de falta de nacionalismo (seja lá isso o que for) aqui fica a minha homenagem singela (coisa muito simples, que a humildade fica bem a qualquer um...e tratando-se do FCP mais ainda) ao campeão nacional (não acham que 11 pontos a mais que os pobres vermelhos é coisa para deitar a moral de qualquer águia abaixo?), que daqui a pouco defronta o Marselha. Ouvi dizer que ali na zona dos Aliados os adeptos franceses vão dando um ar de sua graça e há até quem se meta com eles...mas tudo muito pacífico, que os azulinhos querem é paz...e que a vitória esteja com eles. Amén!
domingo, novembro 02, 2003
"Bolas, só me apetece escrever aqui um palavrão, mas detesto palavrões, e abomino vê-los por escrito, por isso se me fizesse o favor de imaginar que o leu, ficaria muito grata.
É que queria começar com uma forma de protesto genuína (...): estou farta, enjoada, já não aguento mais esta enxurrada sem fim de abusos sexuais, taras e paranóias, descrições sórdidas e detalhadas de intimidades alheias, órgãos mutilados, labregos de olhos tapados e a dita de fora (...). Sinto náuseas de casas de big brothers cheias de gente sem amor próprio, que por uns minutos de fama está disposta a vender o corpo, e de apresentadoras a ridicularizar as meninas que se atrevem a dizer que são virgens, ou, pior ainda, que não querem 'dar uma' em directo! (...)"
in Notícias Magazine, por Isabel Stillwell
Ao ler esta crónica, ocorreu-me que talvez o sexo esteja a dominar as nossas vidas. No caso de alguns, não será (infelizmente, pensarão com os seus botões) o sexo físico. Mas ninguém, sem excepção, lhe escapa.
Há muito que o erotismo abandonou as revistas de arte fotográfica, os anúncios televisivos mais tardios ou as séries importadas. Há muito também que a pornografia deixou de ser o fruto apetecido, pelas proibições de que era alvo, tanto socialmente como no seio familiar (quantos de vós deixaram já de esconder as revistas debaixo do colchão?).
Estamos numa nova era. O que nos surge actualmente é o sexo gratuito: a qualquer hora, não importa o público-alvo da programação - entretenimento (e consegue uma boa "queca" entreter assim tanto?), informação (casos de pedofilia, violação, ...), novelas, ficção nacional e estrangeira, filmes e spots publicitários...até os desenhos animados (que agora os há para adultos).
As perguntas embaraçosas das crianças ganham cada vez menos expressão, a televisão explica tudo (alguns pais - poucos, espero - agradecem).
E o que se ganha com esta exposição demasiado mediática do sexo? Deixou de ser um tabu para abraçar o expoente inverso. É isso que queremos para nós? Uma sociedade em que a sensualidade do que se esconde é agora uma utopia? Um espaço em que o sexo domina as conversas de café, da paragem do autocarro, das faculdades, dos empregos?
Não pretendo ser moralista nem deixar-vos um pensamento retrógado, mas o prazer que o sexo concede não pode (não deve) ser reduzido a um receio crescente, de que todos somos potenciais 'tarados'. O conceito que o envolve é muito para além disso, aliás, não chega sequer aí.
"Falta pouco para que passemos a considerar todas as pessoas como suspeitas dos crimes mais hediondos, todos os gestos como assédios, todos os beijos como aliciamentos, todas as relações como perigosas para o corpo e para a alma (...). Que semelhança tem o sexo, livre, consentido e desejado por ambas as partes, fonte de prazer e felicidade, de cumplicidade conseguidas e consumadas com este filme X rated que nos querem obrigar a ver todos os dias? (...)"
Afinal, nem só de sangue vivem as audiências...
sábado, novembro 01, 2003
31.Outubro.2003, 10h15, Estádio da Luz
"Eu tenho um problema de próstata. Como é que eu faço se tiver que mijar? Sim, com esta fila que não anda, não há casas-de-banho por aqui, como é que eu faço se tiver vontade de mijar?"
Não sei se é do feitio (ou será defeito?) do benfiquista ancião, mas tem sempre que partilhar a vida com os companheiros de clube. É bastante reconfortante ter o apoio dos restantes associados e simpatizantes, que esperam ansiosos para comprar bilhetes para os jogos do grande SLB...mas a próstata é muito íntima, que tal guardar isso lá para casa?
Ora não bastava ao nosso amigo esse problemita (aquele senhor ali à frente abanou a cabeça afirmativamente em jeito solidário...talvez se reveja nesta contrariedade), ainda aparece o segurança a informar as cerca de 3007 pessoas, que se encontram pacientemente à espera, que o sistema informático avariou...e não se prevê a resolução rápida do problema.
Duas horitas de espera, ainda vá, o pessoal aguenta. Metem conversa com o colega da frente, com o amigo de trás, discutem a política do clube ("Por falar nisso, ainda tenho que ir votar! Espero que isto não demore."), revelam preferências nas restantes modalidades ("Xiii, olha o Drula vai ali! O miúdo do futsal..."), falam do futebol que o clube tem praticado: "O Ricardo Rocha devia ser substituído pelo Cristiano.", "O amigo não está bom, talvez deslocá-lo um bocadinho, de lateral esquerdo a central...mas substituí-lo nunca!" (mal sabe ele que o número 33 é o menino dos meus olhos), "O treinador lá sabe o que faz...e olhe que tem sido sempre respeitado".
O temporal começa a fazer-se sentir: o vento ameaça derrubar a árvore centenária por cima da minha cabeça (temo pela vida), a chuva cai (a mim parece-me o dilúvio, mais um pouco e passa por nós a Arca de Camacho) e o frio parece querer gelar as agora 6014 pessoas que se amontoam aqui e ali.
A impaciência começa a despontar:
"No meu tempo havia respeito pelos sócios, não era esta desorganização."
"Onde é que já se viu venderem os bilhetes 48 horas antes da partida?! E ainda por cima o preço dos não-sócios é quase igual. Não fosse eu sócio há 47 anos e eles iam ver...!"
"Oh amigo, eu ainda sou do tempo em que se vinha à bola e na bancada só se via uma mancha azul: eram os operários! Isto o futebol agora é só para os ricos, o Mário Dias é que tem razão...ah, grande Mário!" (e dizendo isto, nem sequer arreda pé; mantém-se ali, firme e hirto - do frio, pois claro - à espera da sua vez para comprar o bilhetinho por uma "módica quantia")
"E como é que é isto agora? Ouvi dizer que os sócios e os adeptos dos outros clubes ficam todos na mesma bancada! Então admite-se eu vir a um jogo e ter uns 20 lagartões sentados ao meu lado?!"
"Quando os computadores não existiam, era tudo feito à mão (falando dos bilhetes, obviamente...que os pc's não resolvem tudo, meus amigos...). E se a caneta falhasse, havia logo outra para substituir (saudosismo, é o que é). A venda é que não podia parar."
"Eu até tenho vergonha de dizer isto, mas o Sporting é que soube organizar as coisas: vendeu os bilhetes de época, têm direito a ver todos os jogos em Alvalade e nós aqui é isto...não se admite!"
"Oh companheiro, o Benfica arrecadou mais receitas só com o jogo da inauguração do que o Sporting a vender essas paneleirices! Quer dizer, não vamos estar agora aqui a comparar sapateiros (SCP) com artistas (SLB)!"
Enfim, estou um pouco perdida...O temporal continua, a fila não avança e bilhetes só lá mais para o Verão. Ou não...
Frases e expressões soltas vêm até mim: "O gajo tem palheta", dizia um. Julgo que se referia a Jorge Gabriel, quando em assembleia leonina defendia o lugar cativo, herança de seu querido avô.
"Embora, para a frente!", gritam os associados impacientes.
"Hey, a fila é cá atrás...vai p'ó ...alho, meu [bode velho]!" (descobre o palavrão), exalta-se a agora multidão, com os "chicos espertos" que querem passar à frente.
Parecemos uns condenados, encostados à parede branca que nos segura (ou seguramo-la nós a ela?). Não sei o que pode acontecer quando me desencostar: já aqui estou há tanto tempo, a fomeca começa a apertar, que sou bem capaz de cair. A ver se não, a ver se não...
14h20
Finalmente! Menos de 2 minutos e o caso está arrumado...os bilhetes, se bem me entendem. Quase em estado de hipotermia arrasto-me dali para fora. Mas trago os 3 bilhetinhos comigo. É ou não verdade que o futebol move o mundo? E o glorioso Benfica, caros amigos, move corações. E, com dificuldade movo eu as minhas pernas para longe...!