terça-feira, agosto 31, 2004

não é segredo que a rádio é a minha paixão.
sintonizem uma qualquer estação e estejam atentos. à música, ao animador, ao jornalista, ao locutor, à publicidade. conseguem descobrir aí um bocadinho de vós?

"o trânsito continua compacto na ponte 25 de abril" - talvez vos interesse, se tiverem que a atravessar.
"a temperatura máxima para hoje é de 27 graus. céu limpo em todo o território e vento fraco" -talvez queiram saber o que vestir ou como poderão aproveitar o dia.
"o autocarro que transportava as 24 crianças conseguiu desviar-se, não havendo qualquer registo de feridos" - talvez queiram manter-se informados.
"já a seguir, 'Norah Jones' na sua rádio" - talvez a música seja uma boa companhia.
"e Simão passa a bola para Ronaldo, vai rematar...é o goooooooolo"- talvez mostre o que os olhos não podem ver.

é engraçado como o rádio é apenas aquele aparelho que ligamos para sentir que não estamos sós. é somente uma companhia...não importa que o fulano-que-está-para-ali-a-palrar-coisas-que-não-interessam-e-a-repetir-os-nomes-das-músicas-vezes-sem-conta tenha um nome.
não importa que faça o seu trabalho com empenho. não importa que pense nas pessoas para quem fala. não importa sequer que se esforce por nos dar algo mais do que um sonzeco para não desesperarmos no meio do trânsito, em hora de ponta.
é só mais uma voz que não nos diz nada. apenas o nome da música, e isso se ela nos interessar!
como se não fizesse parte das nossas vidas. como se fosse só parte necessária, mas irrelevante - como uma banda sonora a que não damos importância - de momentos diferentes das nossas memórias.

conseguem 'ouvir' um radialista sorrir? prestem atenção...e só para nós. sejamos 20 ou 20.000, é para nós que está a falar. e com a mesma dedicação que o faz, devíamos aplicar-nos em retribuir da mesma forma. e é tão simples, é só ouvir...

de repente, ligo o rádio e aquela música é para mim. ninguém o disse, mas eu sei. é a minha música. e são aquelas palavras, sorrateiras, quase silenciosas, que ma dedicam.
"every day's a new day...hey 15, there's never a wish better than this...when you only got 100 years to live..."
obrigada :)

segunda-feira, agosto 30, 2004

"vive cada dia como se fosse o último, porque um dia destes vai ser."

domingo, agosto 29, 2004

há muito tempo que vivo num ambiente urbano. tinha-me esquecido de que os meios mais pequenos têm um cheiro característico, que as pessoas possuem uma familiaridade própria.
num desses passeios que se dão numa quente noite de verão, prestei atenção aos pormenores, ao detalhe que compõe cada recanto, devolvendo essa imagem fugaz de um espaço que já foi meu.

o jantarinho é sagrado, mas a hora tardia levou-nos aos cafés 'de aldeia', à procura de uma sandes mista ou de um salgado que pudesse aconchegar o estômago, sem tornar a digestão pesada.
primeiro café: vazio, apenas dois indivíduos que aparentavam ser do planeta terra ao balcão (e com a pinga no bucho). o dono, mal encarado, perguntou-nos 'gentilmente' (que, no vocabulário dele, vem descrito como 'atitude carrancuda e grosseira com a qual se
deve receber os clientes se se quer ir depressa á falência') o que queríamos. avisou-nos, porém, que àquela hora (22h30 é assim tão tarde?) já só tinha...cafés. next!
segunda tentativa: uma espécie de tasca com ar duvidoso, com uma esplanada onde - aqui sim - se encontram as espécies mais pitorescas dos outros oito planetas do nosso sistema solar. como não éramos verdes nem tínhamos antenas, olharam para nós com aquela visão de raio-x que só os extraterrestres possuem e deixaram-nos abandonados na mesa do canto. lemos a ementa: burriés, moelas e afins. haverá nesta terra um sítio normal onde se possa trincar alguma coisa?
terceira tentativa: a padaria da zona. finalmente, um local com bom aspecto! os empregados simpáticos? havia sandes mista e uma bebida? óptimo, não procuramos mais. a fome é negra...e o repasto soube-nos pela vidinha! :)

aí vamos nós de volta a casa pelas ruas calmas e frescas que a noite oferece. a lua quase cheia ilumina o caminho. a mensagem que recebo 'o luar fabuloso que está hoje' confirma o que acabo de presenciar. à nossa frente, um prédio que podia passar despercebido, não fossem os cinco macaquinhos pendurados nas janelas. perdão, as cinco lindas criancinhas - que, cá entre nós, estão mais para pestes que outra coisa - que discutem entre si qual delas vai apanhar a maior sova. o do segundo andar ameaça o do rés-do-chão (que, aliás, tem apenas uma perna dentro de casa, tudo o resto está suspenso algures entre o parapeito e um qualquer apoio que ele encontrou cá fora): 'eu chamo os meus primos e tu vais ver!'. o do primeiro andar, não querendo deixar a coisa por ali, debruça-se e berra: 'vou chamar o não-sei-quantos para te bater por isto e isto. e eu vou-te bater por aquilo e aqueloutro'. no prédio em frente, uma outra criaturinha adorável faz o pino na varanda, apoiando as pernas nas grades. deve estar a treinar-se para os olímpicos de 2008. mas se continuar a empoleirar-se ali é capaz de não chegar lá.
finalmente em casa...o sossego. :)

dia seguinte: praia o dia inteiro. ali para a zona da arrábida (onde, de resto, eu não ia há algum tempo) o sol brilha e a serra mesmo ao lado traz a paisagem ideal para o dia perfeito. estendemos a toalha e vá de tostar um bocadinho, que o bronze do mês de julho já era. a água limpinha até deixa ver os 'pêxes', que fogem às nossas braçadas. entre um mergulho e uma leitura atenta do livro que levo, aprecio as 'aves raras' que se passeiam aqui e ali.
primeiro, a mocita casadoira (idade terá, noivo não sei) que pega na pinça e arranca os pêlos do buço. pergunto eu: não haverá sítio mais reservado onde o possa fazer?
depois, as duas italianas sentadas na beira da água, conversando animadamente, quando lhes aparece um garanhão que, num inglês manhoso, as tenta engatar. não sei o que conseguiu, certo é que o resto da tarde estava cada um para seu lado. parece que o 'bater do coro' só funciona com as tugas.
finalmente, aquele sr. de barriga muito proeminente, que puxa sonoramente o catarro e cospe para a água - NOJO! de seguida, atira o cigarro. SHAME ON YOU, mr.! para completar o belo retrato de degradação (pièce de résistance, diriam alguns)...o belo do calçonete descaído e o rêgo do dito à mostra!
e assim vai o nosso país! :)

depois de um banhinho tomado - desta feita na banheira -, hora de jantar. vamos ao shopping mais próximo encher a pança de fast food. na mesa ao lado, um casal com duas meninas irrequietas q.b. diz o pai a uma delas: 'oh querida, AQUI não te podes por em cima da
mesa, parece mal'
. aqui?! quer dizer que costumam fazer isso em casa?
enquanto esperamos, olho para o buffet das saladas. um sujeito com ar de poucos amigos (poucos mesmo, só estava uma velhota a acompanhá-lo) pega numa tacinha e, a acompanhar as duas folhinhas de alface, leva maionese. muita maionese. carradas de maionese. não liguei. reparei a seguir que aquela 'sopinha' ainda levava outra 'molhanga'. mais molho. e mais e mais. quase posso jurar que ouvi as folhinhas de alface gritarem por socorro! começámo-nos a rir. o cavalheiro da mesa em frente também. e não parámos mais. aquele entendimento mútuo não passou despercebido ao homem-dos-molhos (e eu a pensar que tínhamos sido subtis): olhou para nós e lambeu-se todo! o porcalhão!
saímos dali e damos uma volta. o centro quase vazio, é a melhor altura para ver montras e apreciar as novas colecções. passa um anormal por nós que se arma em engraçado. julgando que nos estávamos a rir dele - não estávamos -, faz-nos uma vénia e convence-se que tem piada. perdoai-o Senhor, que não sabe o que faz!
entretanto, vamos ao wc. como é costume encontramos a porta dos homens, a porta das senhoras, a porta do fraldário. contudo, este shopping é inovador: tem uma porta com 4 figuras, que se assemelham a uma família feliz. descobrimos então o 'quarto-de-banho das famílias'. :)

sábado. mais um dia de praia. não há espaço para esticar a toalha, mas entre o ombro do rapaz-dos-calções-das-flores-pirosas e o abdómen da senhora-idosa-do-peito-descaído-num-biquini-do-tempo-da-maria-cachucha lá nos conseguimos encaixar. ao lado, chega uma jovem mãe que, se não é peixeira, poderia ser. fala - grita! - do estacionamento, da casa nova, da cerca de quadradinhos, das ameixas amarelas do tamanho de pêssegos que comprou ao fulano-tal-e-coisa ('achas que eu me ia sujar no meio das árvores?'), do guarda-sol que entretanto se partiu com o vento, berra com a filha ('és a melhor mãe do mundo') que lhe pede dinheiro para um gelado ('e tu és uma chula'), atira impropérios para o ar acerca do preço dos materiais escolares da garota ('não dou mais do que €4 por um dossier'). e ainda temos os quatro engatatões ao lado que se gabam das suas conquistas nas noites de lisboa, enquanto nos enchem de areia e me passo da cabeça.
vamos até à esplanada lanchar. os dois empregados que nos servem são muito simpáticos. mas topei o terceiro, que está mortinho por nos vir 'trazer a conta'. por trás dos meus óculos-de-sol (inseparáveis, de resto) finjo que não percebo aquele sorriso parvo e dengoso. lá teremos que lhe pagar o café. todo contente, pergunta-nos com aquele sotaque ucraniano 'já conhecem a nossa carruagem'? calma aí, amigo! isto nem sequer é um encontro e já nos quer mostrar a carruagem?! temos é que ir embora, antes que a coisa comece a azedar...a carruagem! 'mostra-nos para a próxima...sim?' pernas, para que vos quero? :)

quarta-feira, agosto 25, 2004

um mergulho no mar limpa a alma. vários mergulhos dão-nos uma nova :)
o farnel bem recheado para passar o dia na praia. a tarde toda a jogar à bola, as gargalhadas, ora eu te molho ora me molhas tu a mim (ai, que frio!), o ventinho que nos enche as orelhas de areia (e o biquini, a cabecita, as virilhas)...enfim, um dia para renovar o humor e tostar o corpinho, que já precisa.
e agora um fim-de-semana prolongado ao solinho - parece que a vaga de calor está finalmente a chegar - e junto ao mar. noto aí alguma pontinha de inveja? :)
volto já já! :)


terça-feira, agosto 24, 2004

recordar alguém que morreu é viver um pouco. é evocar os momentos construídos numa vida e perceber que ficam para sempre.
"as pessoas só morrem quando deixamos de pensar nelas", ouvi alguém dizer. sentir o mesmo amor é o sinal de que permanecem. olhar os objectos que ficaram, ler as cartas que foram escritas, olhar as fotografias que estão guardadas - e que subitamente temos vontade de rever -, imaginar de novo uma voz e uma presença que marcam...já não dói.
porque o tempo é o aliado que sara as feridas...da mesma forma que o relógio manda os ponteiros erguerem o seu passo lento quando a dor é insuportável e interminável, também acelera os minutos e as horas que compassadamente nos afastam das trevas.
olhamos em volta e tudo era um pesadelo. a sua alma fica connosco, guardada no mais íntimo que possuímos. para sempre. na memória e no coração.

segunda-feira, agosto 23, 2004

se contabilizarmos o número de pensamentos que temos ao longo de um dia, dificilmente nos recordaremos de todos. quantas pessoas passam pela nossa cabeça, quantos locais visitamos sem sairmos do mesmo sítio, quantas horas tem o relógio que nos acompanha nessas viagens?paramos aqui e ali, sem demorarmos muito tempo em lugar nenhum...levamos atado à memória o fio da recordação, que nos transporta para aquele acontecimento marcante ou para o sonho do que fica por vir. há pouco, em conversa com um amigo, abandonei por momentos aquele espaço e deixei voar para longe as palavras que ele dizia.
"há dias estava a falar sobre ti com..."
vivemos uma existência estranha, afastada da realidade daqueles que nos dedicam tempo. amamo-los, respeitamo-los e sabemos o lugar que ocupamos nas suas vidas. mas não nos é evidente que 'percam tempo' a pensar em nós. é curioso imaginar todas as pessoas que conhecemos. e se suscitarmos em cada uma delas pelo menos uma imagem por dia? isso talvez signifique que somos importantes, que por uma ou outra razão nos envolvemos num emaranhado de histórias tão próprias, que não devemos afastar.

***
no fundo, ocupar um espaço é vivê-lo. é entrar num barco e aprender que cada elemento é essencial para que a viagem corra bem. é descobrir que cada segundo conta, que cada onda que atravessa o nosso mapa retribui - com maior ou menor intensidade - todo o empenho que lhe dedicamos.

p.s. e enquanto escrevia pensei em ti, e em ti...e em ti também :)

não tenho um nariz grande. não tenho uma verruga junto a ele. não me visto de preto nem uso um chapéu alto. não sei fazer feitiços. não engordo meninos dentro de uma jaula, para depois os assar no forno. não sou uma BRUXA!
gostava que todos aqueles que deixam o contributo no blog se identificassem. é o mínimo. peço desculpa, mas não posso adivinhar quem são.
todos os comentários serão assim bem-vindos :)

domingo, agosto 22, 2004

desliguei a música. para escrever é preciso ouvir o pensamento. os últimos dias têm sido só isso mesmo: um aglomerado de sons, que se movem daqui para além. a maior parte sem sentido.
no meio dessa ilusão, escapam algumas vozes, linhas sem muita importância que compõem um trecho musical. foi assim que olhei para eles e os concebi numa pauta. uma nota que me descreve, uma outra que me confronta com traços que são meus e que nunca vi.
repararam alguma vez que, se pedirem a alguém que vos descreva, a resposta é vaga? toma sempre um tom de brincadeira, que nem sequer reclamamos...e, no fim, a ideia que tínhamos é a mesma: aquela que formamos acerca de nós próprios. porém, se uma situação vos transporta a um limite de desespero - e estranheza para os demais - verão como toda a gente vos retrata de forma sensata e real.
e isso faz-nos pensar...reconhecemos características em nós que anteriormente estavam tão escondidas, que nem nos apercebíamos. começamos a prestar atenção aos pormenores, ao valor de outras coisas. e então, mudamos a rota dos sentidos. (re)adoptamos o comportamento e acordamos - connosco, quem mais? - que esse olhar sobre o mundo vai ser distinto. porque nos apontaram os defeitos - geralmente, feitio - que não queremos manter para não cometer os mesmos erros. e se é com eles que aprendemos, se são o mais importante que acumulamos ao longo de uma vida, também os queremos afastados para olhá-la de frente e renascer.

***
saber que temos junto a nós os que são mais importantes, é metade do caminho para erguer um sorriso :)
e para enfrentar os outros, os que por vezes parecem escapar, mas que, bem ou mal, têm também uma parte de nós.

p.s. "...if I knew the town I would be not so close to you..."

sexta-feira, agosto 20, 2004

"às vezes somos surpreendidos por um acaso", dizia-me há dias um amigo. só agora começou a fazer sentido.
quando o humor e o pensamento se deslocam algures na fronteira entre o branco e o preto, não há muito que nos faça sorrir. vêm os dias tristes, as noites longas e penosas, as imagens que insistem em permanecer e atormentar.
subitamente, uma mensagem, um telefonema, um encontro inesperado e a nuvem cinzenta afasta-se...aos poucos. cada noite de sono traz um dia mais limpo, cada gesto simples devolve o significado da simplicidade esquecida. o mundo torna-se novamente aquele sítio certo para se viver.
sei que o céu amanhã estará mais limpo: o sol vai brilhar com mais intensidade, as estrelas vão reunir-se para formar um coro de melodias suaves, para embalar a lua. há momentos em que o universo conspira a nosso favor...

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sabes Mel, é inesperadamente das pessoas que não nos são tão próximas que surgem as melhores surpresas. aquelas que passaram pelo nosso caminho e deixaram uma marca, mas que julgamos passageiras. felizmente, a vida tem-me ensinado que não tem que ser assim. os que gostamos - às vezes sem explicação -, os que admiramos - pela força e garra com que enfrentam os dias - têm sempre um lugar vago na lista que preenche o nosso porto de abrigo. basta para isso que possam reflectir um pouco de nós quando falam, que tenhamos também ocupado um vazio que não resistiu à nossa invasão.
é bom saber que até nas conversas triviais (ou num post sentido) fica algo de nós para recordar...mantém-te por perto nos próximos tempos :)

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uma palavrinha agora a todas aquelas pessoas que há cerca de 3 anos trouxeram um pouco de loucura à minha vida. convosco cresci, aprendi, ri (rimos muito!), chorei, ouvi...parte do que sou hoje tem um pedacinho de todos vós e isso nota-se. a todos os colegas de faculdade que se tornaram amigos: chegou agora ao fim uma linha que parecia longínqua, uma meta que custou a alcançar. mas estão todos aí! não se afastem, mais um pouco e estarei convosco outra vez (lucky you!). entretanto, lembrem-se apenas de que são os únicos responsáveis pelo sucesso das vossas vidas!
BOA SORTE! :)

quinta-feira, agosto 19, 2004

há dias em que a alma nos pede uma arrumação. pegamos primeiro na vassoura e afastamos para um canto as pessoas e situações que nos feriram. em seguida, escondemos numa prateleira bem alta todas aquelas que, em algum momento, nos foram próximas. e mantêmo-las à vista, para as recordar novamente, imersos numa nostalgia que nos acalma. à mão, para que lhes possamos tocar, alinhamos a nossa gente - bem perto do lado do coração que bate com mais vigor. depois, soltamos as lágrimas, que vão acabar por lavar as impurezas que restam e levar para bem longe as dúvidas sem sentido e as más recordações...

***
é necessário uma vida para conhecer alguém. porém, pretensiosos, pensamos que uma gargalhada conjunta ou um segredo partilhado nos trazem a união de um caminho infinito. que erro!
olhei para o lado e lá estavas: o mesmo sorriso de sempre, o mesmo carinho que, desde o primeiro dia, me deste. e agora é tudo tão diferente...de repente, a cabeça começa a rodar e as perguntas espalham-se por todo o lado. não cessa aquele eco que as palavras deixam. quero pensar, ouvir, pensar de novo e encontrar o sentido. e afinal ele não existe. ou fui eu que o perdi? ou eras só tu a entregar-te de outra forma? ou não estamos mesmo aqui e tudo não passa de um sonho?
acorda-me então e diz-me onde fica a terra. é urgente! para que eu não caia, para que não te abandone. vamos começar novamente...eu finjo que não foste assim e tu dizes-me as mesmas palavras, num tom diferente, distante. não te afastes, pedes-me. não o farei, mas preciso de uns segundos para recompor a ordem que abalaste. abre esse espaço para eu gritar e regressa somente quando a vontade, a minha, te chamar.
aí então poderemos recomeçar. e faremos tudo da forma correcta: primeiro o sorriso, depois o segredo. finalmente outro e outro. e deixaremos de ter essa pretensão equívoca de que nos conhecemos. porque é nessa realidade confusa que vamos definindo os contornos da amizade interrompida, que queremos agarrar.

p.s. "the worst is over now and we can breathe again...you've gone away...you don't feel me here anymore..."

quarta-feira, agosto 18, 2004

recriar um blog é tarefa fácil: tive vontade de escrever e escrevi. em seguida, não fosse ele ficar às moscas, enviei uma 'notificação' à malta - a que lê e a que não lê (podia estar em maré de sorte, nunca se sabe).
et voilà...primeira reacção: um blog criado em seguida pela prima alemã (mas estás só emprestada) que é (ou era) devota dos diários com cadeado e chavinha - aqueles que escondíamos na gaveta mais funda, por baixo da roupa interior, esperando que ninguém encontrasse.
(embora eu tenha quase a certeza que alguém o lia, até hoje não está provado)
e agora é vê-la entusiasmada com a tal minhoca na couve (deves-me uns chocolates pela publicidade), que ninguém sabe onde irá parar. provavelmente, não contente com as folhas, vai sugá-la até ao talo (à couve)!
mais meia dúzia de comentários e o JC volta a dar que falar. qualquer dia corre mundo, torna-se um fenómeno de popularidade e temos os jornais mais importantes a noticiar as tolices e demências de quem não tem o que fazer...pum! bati com a cabeça e acordei :)
***
quando se tem 8 barriguinhas esfomeadas a pedir uma sugestão de um local onde se possa comer bem, a responsabilidade é grande. apesar da fomeca, e ao contrário do que dizem, o paladar continua apurado (talvez mais) e um erro na indicação pode ser fatal.
as férias num 'centro de dia' - nome carinhoso que demos ao hotel onde passámos uma semaninha de papo para o ar - são boas...se tivermos em conta que não é vidinha para fazer mais do que uma semana. primeiro, porque comer-e-dormir-dormir-e-comer é uma rotina a que facilmente nos habituamos; depois, porque causa uma inércia que nos transforma rapidamente em 'gordalhufos'...simpáticos, porém cheínhos demais!

(sim, querida Cocas, faça-se justiça à tentativa de levantar a malta cedo da cama para umas braçadas na piscina! mas achas realmente que aguentavam trocar a cama quentinha pela água gelada muito mais vezes? só aquela foi um milagre!)

para não faltar com a verdade, essa história do dormir-e-tal-e-coisa não é tão linear como se pensa. os passeios foram mais que muitos: desde a praia fluvial do Malhadal à Quinta de Belgais (ai a quinta...), passando entretanto por Castelo Branco e outras tantas terras cujo nome é qualquer-coisa-a-Nova, muito Portugal nós (re)descobrimos.
mas se questionarmos as 8 alminhas de qual gostaram mais, a resposta é unânime: Tomar! pudera, o jantarinho soube a manjar dos deuses (e a bebida, pelo que vi, também). e só não embrulhámos o que sobrou num pãozinho para levar para o pequeno-almoço, porque a cesta já estava vazia (nos primeiros segundos em que se sentaram foi vê-los devorar o pão, a manteiguinha e o queijo...não viam comida há dias, pobres criaturas!).
saímos satisfeitos, de pança cheia para os próximos dias (sim, que Tomar ainda é longe do hotel). parece que quem aconselhou o local não recebeu ainda a comissão devida. ficou contudo o alívio de não ter a vida em risco. venham mais sugestões assim...de comer e chorar por mais :)
***
outra coisinha: "Paraíso da Barafunda" é a última produção animada da Disney feita ainda pelo método tradicional: o desenho. não sei se é uma boa despedida...o filme é engraçado e tal, entretém a criançada...mas falta ali qualquer coisa - muita coisa. eu, confessa adepta de desenhos animados (sim, ainda sou do tempo em que levantar cedo aos fins-de-semana não custava nada), não fiquei fã. o início promete muito - a vaca Maggie com as suas tetas SEM silicone - mas as piadas vão sendo previsíveis com o desenrolar da história...e, claro está, o final feliz também.
se tiverem bilhetes à borla, força, vão ver. caso contrário, dediquem-se à pesca ou a qualquer outra actividade boa para a época :)

segunda-feira, agosto 16, 2004

em tempo de mudanças, é essencial manter o espírito aberto. nem sempre é fácil (re)criar uma vida que surge, nem sempre é justo deitar para trás das costas momentos que deixaram marca.
mas é preciso, é isso que enriquece o caminho e nos preenche como pessoas.
é por isso que chegamos à meta - e quantas não temos ainda para atingir - e, muitas vezes, queremos desistir. nem sempre a estrada que se segue é aquela que queremos percorrer. mas fizemos uma escolha e devemos assumi-la. abandonar um percurso a meio parece mais fácil, claro! não pensamos de imediato que regredir não é vantajoso.
o tempo não volta atrás...cada vivência tem um momento único (e certo) e é preciso retirar dele o melhor.

agora, no presente, olhar em frente parece ser a única solução. RECOMEÇAR!
é a época do balanço: o ano que passou, as opções que ainda virão, as pessoas que farão parte da caminhada, as que deixaremos - ou que nos deixarão - a meio. na verdade, só quem aqui está faz falta.
e é às pessoas importantes que agradeço:

  • cada segundo ao meu lado
  • cada palavra (às vezes, mesmo sem saberem, era a decisiva)
  • cada sorriso
  • cada gesto
  • cada olhar
  • as coisas pequenas, tão simples...mas as únicas que contam.

retomo agora o percurso. preciso de vós: dos que cá estiveram, dos que continuam a estar...e de quem chega agora mas já ocupa um lugar importante. e tão grande como a saudade que deixa, quando não está...

p.s. "I wanted you to know I love the way you laugh...I wanna hold you high, you steal my pain away..."